No movimento de um novo fôlego que o cinema ganha após o período de pandemia, a presente edição do Queer Lisboa procura fazer justiça a um olhar queer, um olhar não polarizado, que fica entre e além-fronteiras.
A retrospetiva que este ano dedicamos a Yvonne Rainer revela-nos precisamente como a coreógrafa usou o cinema para denunciar e subverter um olhar machista e patriarcal, contrapondo-o com narrativas que olham antes o mundo de uma perspetiva queer, lançando nova luz sobre temas como a intimidade e as relações, a História ou a doença. E no programa deste ano, Rainer parece dar o mote para uma muito diversa seleção de filmes, todos eles diferentes olhares sobre as múltiplas vivências que procuram representar. Dos territórios indígenas asfaltados em nome de um chamado progresso, a vozes queer russas que recusam silenciar-se perante a repressão e a guerra. Das novas vozes de pessoas trans que enfim contam e ficcionam as suas próprias histórias, ao silenciamento e morte por homofobia na Nigéria. Das necessárias releituras da História à luz do pensamento pós-colonialista, aos igualmente sempre necessários regressos às realidades LGBTQI+ das passadas décadas, essenciais para compreendermos o nosso presente. Da epidemia da sida ao Covid, do chemsex à saúde mental. Vidas e vozes que ora sussurram, ora gritam, habitam as salas do Queer Lisboa 27, contra o apagamento e a indiferença. Pela respiração, pela construção de caminhos melhores.