Cinema São Jorge

A Festa do Cinema Italiano é o acontecimento mais importante em Portugal dedicado à cultura italiana promovendo, além do cinema, música, literatura, arte e eventos gastronómicos.Em Lisboa, o festival realiza-se de 12 a 21 de abril, no Cinema São Jorge, no UCI El Corte Inglés, na Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema e, pela primeira vez, no recentemente reaberto Cine-Teatro Turim, em Benfica.

Uma parábola pura e desprovida de retórica sobre a necessidade de assumir a responsabilidade pelos nossos actos.Candidato ao Óscar de Melhor Filme Internacional,  Eu, Capitão é um conto homérico sobre a intrépida viagem de dois jovens, Seydou e Moussa, que partem de Dakar com um sonho:  chegar à Europa. Uma Odisseia contemporânea que atravessa as armadilhas do deserto, os perigos do mar e as ambiguidades do ser humano. Na origem do filme estão os testemunhos verdadeiros daqueles que viveram este inferno e que viram a objectiva da câmara para a sua realidade, em perfeito contracampo com as imagens que estamos habituados a ver, na nossa perspetiva europeia. No relato pessoal de Seydou e Moussa, encontrámos uma imensidão de histórias que começam em Dakar, no Senegal, percorrendo um vasto caminho até Itália. Mas Eu, Capitão é um filme que fica suspenso entre o realismo e a componente visionária. Um objecto que podia ter sido um novo ponto de chegada, um local de aterragem diferente de um cinema que deixa apenas aflorar o atrevimento de uma nova filmografia deste cineasta. Em vez disso, também em contracampo, torna-se um outro ponto de partida, o início de uma outra viagem cheia de armadilhas, povoada por figuras ambíguas, sinistras e violentas.

Uma homenagem sentida a Monica Vitti, a mulher que conseguiu ser todas as mulheres possíveis, contando-as com as suas fraquezas e fragilidades, com o seu lado cómico e trágico.Mónica (Alba Rohrwacher) perde a memória e encontra uma forma de dar sentido à sua vida, identificando-se com as personagens dos filmes interpretados por Monica Vitti. Veste-se como ela, imita-a, recria cenas dos seus filmes. Edoardo, que a ama profundamente, deixa que este jogo se torne a sua nova realidade. Uma obra sobre a perda da memória afetiva e histórica, um filme que fala de fantasmas, e que, de certa forma, os evoca, os questiona, ou, simplesmente, quer passar tempo com eles. Realizado num estilo que recorda a Nouvelle Vague, com um trabalho excepcional de figurinos, cenários, montagem e efeitos sonoros. Alba Rohrwacher venceu com este papel o Prémio de Melhor Atriz do Festival de Cinema de Roma.

Stefano Sollima regressa à sua cidade natal para nos brindar com um western crepuscular numa Roma ainda mais cínica, caótica e feroz.Apresentado em competição no último Festival de Veneza, Adagio marca o novo passo do realizador de Suburra e Sicário, que conta o inexorável e pungente declínio de três velhas lendas do submundo criminal de Roma em busca de uma redenção impossível. Num mundo que dilacera laços familiares, amizades e fraternidades, deixando apenas vínculos movidos pelo dinheiro, a cidade é retratada como um cenário caótico, corrupto e cínico, sufocado por um calor escaldante, assombrado por incêndios e pela escuridão dos apagões. Mas há uma réstia de luz: a nova geração. 

“Tinha 17 anos no dia 25 de Abril de 1974 e sentia que as notícias que chegavam de Portugal eram minhas, como se estivesse lá a lutar. O mundo estava a mudar, tínhamos a certeza disso. Com o fim do imperialismo, aproximava-se a queda dos regimes que oprimiam a Europa. Cantávamos as canções de José Afonso como se fossem nossas, distribuíamos cravos nas casas, pronunciávamos os nomes dos dirigentes, entre os quais os mais famosos eram os de Cunhal e Mário Soares. A tão esperada primavera estava a chegar, de vez. Inverno nunca mais, em Itália, em Portugal e em todo o lado.” - Massimo ZamboniMassimo Zamboni - figura de proa do chamado punk italiano e fundador das bandas CCCP e CSI - apresenta na Festa do Cinema Italiano um momento de encontro entre duas datas simbólicas e sinónimas de revolução em Itália e Portugal: 25 de Abril, de 1945 e de 1974.Um espetáculo acompanhado por convidados, canções e leituras, em italiano e em português, promovendo um diálogo aberto e em construção sobre a liberdade de cantar, ler, e pensar.

Um filme emocionante sobre a busca pela redenção no seio de laços familiares problemáticos, Felicità leva-nos numa viagem de amargura e generosidade através dos olhos de Desirè.Na estreia como realizadora da atriz Micaela Ramazzotti, somos imersos na história dramática de uma família disfuncional, onde Desirè luta para encontrar a felicidade no meio da exploração, de relacionamentos abusivos e assédios. Em Felicità, a condição subalterna da protagonista é magistralmente retratada, mergulhando-nos na melancolia da sua existência. Interpretada pela própria Micaela Ramazzotti, que traz consigo a espontaneidade que marcou as suas personagens no passado. Este é um filme movido pela sinceridade, onde a realizadora expõe sua própria humanidade ao mesmo tempo que nos mostra o amor pelas suas personagens. Conquistou o Prémio do Público da Secção Orizzonti Extra no Festival de Veneza.