Cinema São Jorge

O italiano revelou-se, ao longo da história, como uma das línguas principais da cultura e da arte nas suas multíplas declinações. Língua de poetas admiráveis que ditaram modelos e gostos por toda a Europa do Renascimento, língua da arte, num País onde o património artístico ocupa uma vasta área do seu território, língua franca do comércio e da navegação no Mediterrâneo antigo das costas de Espanha até as ruelas de Constantinopla, língua da música clássica e da Ópera que nasceu cantada em italiano, língua do teatro da commedia dell'arte à dramaturgia contemporânea, língua da moda e do design de vanguarda e, por fim, língua da eno-gastronomia mais refinada. A Festa do Cinema Italiano em colaboração com o Instituto Italiano de Cultura de Lisboa, para cultivar o interesse e o amor pela língua italiana propõe e oferece uma aula de italiano para principiantes que queiram aprender algumas palavras com a ajuda de dois colossos que ganharam vida após o seu fortuito encontro no mar Jónico, a 16 de agosto de 1972.

Um drama maduro sobre a elaboração do luto e a relação com o outro, “Atlas” é um filme de tirar o fôlego e a segunda longa-metragem de Niccolò Castelli, que conta com a interpretação da atriz e cantora Matilda De Angelis. Apaixonada por escalada, Allegra decide marcar uma viagem para Marrocos para alcançar o topo da cordilheira Atlas. A sua viagem termina abruptamente quando um homem explode uma bomba num café onde estavam os seus três amigos, que morrem no ataque terrorista. Aniquilada pelo sentimento de culpa e pelo desejo de vingança, ela recolhe-se na sua solidão. Para voltar a desfrutar da vida feliz que levava, Allegra vai empreender uma longa luta contra si mesma e é nesse contexto que conhece Arad, um jovem refugiado do Médio Oriente. Neste drama de Niccolò Castelli sobre o luto e renascimento, a jovem atriz e cantora Matilda De Angelis prova que é uma das melhores promessas do novo cinema italiano.

Em agosto de 1961, os jovens membros do Grupo Espeleológico Piemontês dirigem-se para o sul. Na Calábria, e descendo às profundezas da terra, vão descobrir a segunda gruta mais profunda do mundo: o Abismo de Bifurto. Ambientado na década de 1960, durante o boom económico em Itália, “Das Profundezas” reconstitui a jornada de um grupo de jovens espeleólogos que encontra pela primeira vez o fundo do Abismo do Bifurto, 700 metros abaixo da terra, uma das cavernas mais profundas do mundo, no interior intocado da Calábria. O novo filme de Michelangelo Frammartino, que recebeu o prémio especial do júri no 78º Festival de Veneza, é uma maravilhosa meditação sobre a curiosidade fundamental de compreender as profundezas incognoscíveis do mundo natural. Frammartino devolve a tridimensionalidade à tela, deixando que a própria natureza e a humanidade se revelem de acordo com os seus ritmos, e que sejam os seus sons e não os diálogos que falam.

Mondocane, uma história pós-apocalíptica de violência, crueldade e inocência perdida é o filme de estreia de Alessandro Celli, produzido por Matteo Rovere que ultimamente tem injetado alguma energia no cinema de género italiano. No futuro, a cidade de Taranto foi isolada do resto do país e evacuada devido aos danos causados pela siderurgia. Dentro das cercas, gangues criminosos lutam pelo controle do território. Entre eles o Formiche, um exército de miúdos liderados pelo temível Testacalda. Enquanto do lado de fora a polícia tenta manter a ordem, os dois adolescentes Pietro e Christian entram em contato com o grupo e atraem a atenção de Testacalda, que terá que escolher qual dos dois rapazes colocar sob a sua alçada.Mondocane é um sólido exercício que mistura o tom pós-apocalíptico com o cyberpunk, pessimista tal como o género exige, num cenário distópico onde Roma já não é a capital.